Meta de acesso em 2010 não foi superada
Entre
2000 e 2010, de acordo com os dados dos Censos Demográficos, o aumento
nas taxas de acesso à escola foi de 9,2% para o Brasil. A região com
maior aumento na frequência aos sistemas de ensino, entre crianças e
jovens de 4 a 17 anos, foi a Norte (14,2%). O Sudeste, que já partia de
uma situação mais favorável em 2000, com 85,8% da população na escola,
foi a região que teve menor taxa de crescimento do acesso à escola:
8,0%.
Mesmo com tal acréscimo nas taxas de frequência, nenhuma das regiões
conseguiu superar a meta intermediária estabelecida pelo Todos Pela
Educação para sua
Meta 1, de atendimento escolar de 4 a
17 anos, nem o Brasil como um todo. A maior taxa de atendimento foi
encontrada no Sudeste (92,7%), e a menor, no Norte do País (87,8%). A
mesma análise pode ser observada para cada uma das unidades da federação
e, novamente, é possível verificar que nenhuma superou a meta
intermediária de atendimento escolar proposta para o ano de 2010.
De acordo com os dados, 3,8 milhões de indivíduos de 4 a 17 anos
estão fora da escola. Entre as regiões, o Sudeste tem os maiores
números absolutos de crianças e jovens nesta condição, com mais de 1,2
milhão de indivíduos fora dos sistemas de ensino. O Centro-Oeste, na
composição do País, tem os menores totais de indivíduos fora da escola.
Em números absolutos, o estado que tem mais crianças e jovens a
incluir no sistema de ensino é também o mais populoso, São Paulo, com
mais de 607 mil potenciais estudantes fora da escola. Na sequência,
aparecem Minas Gerais (363.981 crianças e jovens fora da escola) e Bahia
(277.690).
As taxas de acesso à Pré-Escola permanecem em patamares muito mais
baixos que os estabelecidos pelas metas do Todos Pela Educação. O Norte
do País, em particular, tem a menor taxa de atendimento nesse nível de
ensino, com 69,0% das crianças de 4 e 5 anos com acesso aos sistemas
de ensino e mais de 201 mil fora da escola. O atendimento às crianças e
jovens de 6 a 14 anos, no País, já se encontra em patamares mais
elevados: 96,7% daqueles nesta faixa etária estão na escola. Entre os
jovens de 15 a 17 anos, idade regular para o Ensino Médio, 83,3%
frequentam a escola. O menor percentual de acesso, novamente, é do Norte
(81,3%).
Diferenças de gênero e defasagem nos primeiros anos do EF
A
Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização),
realizada em 2011, trouxe dados inéditos sobre a alfabetização das
crianças brasileiras. Aplicada em todas as capitais do País, a 6 mil
alunos do início do 4º ano (que concluíram com êxito o 3º ano) de
escolas públicas e privadas, a prova avaliou as crianças em matemática,
leitura e escrita.
Dentre os principais resultados, a Prova ABC revelou que, na média
Brasil, apenas 56,1% atingiram o conhecimento esperado em leitura,
53,3% em escrita e 42,8% em matemática. A
Meta 2 do
Todos Pela Educação defende que todas as crianças devem estar
plenamente alfabetizadas até 2022. O presente relatório, além do
detalhamento dos dados nacionais, por regiões e por redes de ensino,
traz também dados inéditos sobre o desempenho na Prova ABC por idade e
por sexo.
Em escrita, a proporção de meninas com nível igual ou superior ao
esperado foi 16,4 pontos percentuais maior que a dos meninos. A
diferença em leitura foi de 9,4 pontos percentuais, favorável às
meninas. Já em matemática, a disciplina com menor percentual de
estudantes que atingiram o nível esperado, não houve diferença
estatística.
Já em relação à idade, a Prova ABC foi aplicada a alunos no início
do 4º ano do Ensino Fundamental, ou seja, pretendeu avaliar o
aprendizado dos concluintes do 3º ano. Idealmente, o aluno que cursa o
4º ano do Ensino Fundamental deveria ter 9 anos. Contudo, a presença de
alunos de 8 anos nesse ano escolar pode ser considerada normal, já que
os estudantes podem completar 9 anos ao longo do ano letivo. Ao todo,
79,5% dos 5.875 alunos que participaram da prova tinham 8 e 9 anos na
data do exame. Houve poucos casos de alunos com menos de 8 anos, ou
seja, adiantados (0,5%), e os estudantes com defasagem compuseram 20,1%
da amostra.
O que mais chama a atenção nos dados por idade é a situação dos
alunos com defasagem idade-série. De acordo com os resultados, o
percentual de alunos que atingiu o desempenho esperado em qualquer uma
das disciplinas é sempre menor do que o dos alunos na idade correta.
Alunos com defasagem idade-série são os que repetiram algum ano ou
ingressaram tardiamente no sistema escolar.
Além de apresentar os resultados completos e novos recortes da Prova
ABC, o Relatório deste ano traz também um artigo de Nilma Fontanive e
Ruben Klein, consultores da Fundação Cesgranrio, que contém uma análise
conjunta dos resultados da Prova ABC e dos resultados da Prova
Brasil/Saeb e exemplos de itens usados na Prova ABC acompanhados de
interpretação pedagógica.
Aprendizado adequado por municípios
Os resultados
nacionais indicam que, desde 2003, vem ocorrendo melhora nos
percentuais de alunos que atingiram o desempenho esperado para o 5º
ano/4ª série, tanto em matemática quanto em língua portuguesa. Já no 9º
ano/8ª série do Fundamental e 3º ano do Ensino Médio, a melhora não
segue o mesmo padrão. A partir de 2005, houve aumento dos percentuais
de alunos que atingiram o esperado em língua portuguesa nestas duas
séries. Em matemática, o crescimento da proporção de alunos que
aprendeu o desejável foi bem mais lento e, inclusive, houve decréscimo
em 2007, como é o caso do Ensino Médio.
Além de apresentar os dados por unidades da federação para acompanhamento da
Meta 3
– Todo aluno com aprendizado adequado à sua série, esta edição do
relatório também traz, como anexo, os resultados por municípios de todo
o País. De acordo com os dados, todas as capitais atingiram a meta
intermediária (2009) para o 5º ano do Ensino Fundamental em matemática e
para o 9º ano em português, mas a maioria delas não cumpriram a meta
para o 5º ano em português e para o 9º em matemática. Dentre os
municípios, destacamos que todos os municípios do Acre (os 22
municípios do estado participaram da Prova Brasil) atingiram as metas
para o 9º ano em português; e que Minas Gerais é o estado que tem o
maior percentual de municípios que atingiram as metas para o 5º ano
tanto em português quanto em matemática, sendo que 97,8% dos seus 853
municípios tem resultados passíveis de verificação.
Fluxo deve ser prioridade para conclusão
A
Meta 4
fixa taxas de conclusão para o Ensino Fundamental e Médio, permitindo,
no máximo, um ano de atraso escolar. Assim, é importante analisar
indicadores de atraso escolar, como a taxa de distorção idade-série. O
atraso pode resultar da entrada tardia na escola ou da repetência, o
que, por sua vez, está relacionado ao acesso à escola, abandono e
aprendizagem inadequada, entre outros fatores. Hoje, ao fim do 5º ano
do Fundamental as taxas de distorção idade-série chegam a quase 25%,
isto é, um em cada quatro alunos está atrasado nos estudos nesta etapa.
Apesar dos resultados positivos em relação à meta intermediária
(apresentadas a seguir), de acordo com Tufi Machado Soares, professor da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e articulista deste
relatório, o atraso escolar é um obstáculo para que as taxas de
conclusão atinjam valores mais elevados, pois quanto mais defasado o
aluno, menor sua chance de concluir os estudos. Segundo ele, há fortes
indícios de que a Meta 4 não seja cumprida em 2022 se o padrão de
melhoria da Educação se mantiver o mesmo. As previsões indicam uma taxa
de conclusão (com até um ano de atraso) de 76,8% para o Fundamental, e
de 65,1% para o Médio. Mudanças estruturais serão necessárias para que
esta previsão seja revertida. Em especial, as políticas de fluxo
deverão sofrer reformulações ou ser intensificadas.
De acordo com informações da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2009 (em 2010 não foi realizada a Pnad, e sim o Censo
Demográfico), estatisticamente, o Brasil atingiu a meta intermediária
(de 2009) de conclusão para o Ensino Fundamental e a superou para o
Ensino Médio.
Porém, apenas a região Centro-Oeste superou as metas de conclusão
para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio naquele ano. O Sudeste, por
sua vez, registrou taxas de conclusão do Ensino Fundamental inferiores
ao esperado. As maiores taxas de conclusão foram observadas no Sul do
País. Entretanto, a região apenas atingiu a meta, sem superá-la. O
Nordeste tem as mais baixas taxas de conclusão para o Ensino
Fundamental, e o Norte, para o Ensino Médio.
A maior parte das unidades da federação atingiu as metas propostas
para a conclusão do Ensino Fundamental e Médio em 2009, e algumas delas
as ultrapassaram. A exceção é o estado do Rio Grande do Sul, que não
bateu a meta de 2009 para a taxa de conclusão do Ensino Fundamental. O
Distrito Federal detém a maior taxa de conclusão do Ensino Fundamental,
com 82,2% de alunos concluindo a etapa até os 16 anos. Já o maior
percentual de concluintes do Ensino Médio até os 19 anos foi registrado
em Santa Catarina (69,1%).
A menor taxa de conclusão do Ensino Fundamental foi observada em
Alagoas, onde 36,4% dos alunos o concluíram até os 16 anos. É curioso
que, neste estado, a taxa de conclusão do Ensino Fundamental seja menor
que a do Médio aos 19 anos (37,3%). A menor taxa de conclusão do
Ensino Médio aos 19 anos é da Paraíba (30,6%).
Investir mais e melhor
A melhoria da
Educação passa, necessariamente, pelo investimento adequado e pela boa
gestão dos recursos nos três níveis de governo: União, unidades da
federação e municípios. Em 2011, amplos debates ocorreram acerca desta
temática, o principal provocado pela tramitação do Plano Nacional de
Educação (PNE) 2011-2020, que trouxe como uma de suas metas a definição
do percentual do Produto Interno Bruto (PIB) a ser destinado para a
Educação na próxima década.
As informações oficiais disponíveis até meados de janeiro para
consulta do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), referiam-se a até o ano de 2009. Somente em 19
de janeiro de 2012, houve a publicação oficial do percentual do PIB
investido em 2010. Em 2009, ano anterior ao estipulado pela
Meta 5
do Todos Pela Educação para que o País aplicasse 5% do PIB em Educação
Básica, o investimento atingiu 4,2%, estando 0,8 ponto percentual
abaixo do estabelecido pelo movimento. Em 2010, esse percentual foi de
4,3%, confirmando a previsão de que o Brasil não cumpriria a Meta 5 em
2010. Supondo que o crescimento dos investimentos mantenha o mesmo
ritmo de 2005 a 2010 de 6,0% ao ano, o percentual esperado para a
Educação Básica seria de aproximadamente 4,6% em 2011, ainda inferior
aos 5% estabelecidos pelo movimento.
O relatório traz ainda informações e análise de Amaury Gremaud,
professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de
Ribeirão Preto (FEA-RP), sobre investimento na Educação Básica X
Educação Superior e sobre o cenário mundial de investimento em Educação,
de acordo com informações do relatório
Education at a Glance 2011,
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Dentre os principais dados desta publicação é possível destacar que o
investimento brasileiro por aluno do Ensino Fundamental ao Superior
ocupa as últimas posições quando comparado ao de outros países; que na
média de 35 países, o Brasil só tem investimento por aluno maior que o
da China e que o investimento por aluno na Suíça é 6,2 vezes o do
Brasil.
Fonte: Portal CENPEC